domingo, 12 de agosto de 2012

"TEM UM LOUCO SOLTO NA AMAZÔNIA": OS BRASIS SELVAGENS DE FELIX RICHTER.

Sempre quis ler um livro que não tivesse sido indicado por ninguém e sobre o qual eu não tivesse nunca lido nada. Ao encontrar o romance de Richter, achei que fosse essa a ocasião perfeita. Escolher um livro assim incorre em vários riscos, mas, nesse caso, o risco valeu a pena. Confesso que minha primeira motivação para adquirir/ler o livro se deve à inveja. Tive uma profunda e divina inveja do título. Embora tenha tido uma ideia da narrativa a parir desse mesmo título que não se confirmou. O romance me surpreendeu de forma positiva, mesmo assim. O norte distante e desconhecido da maioria de nós, brasileiros, é mostrado em várias camadas narrativas, no romance, e em todas se vê a impossibilidade de compreender completamente aquela região: de um lado, encontramos um piloto largado na floresta depois que seu avião é roubado por traficantes colombianos; do outro, uma ativista canadense crente de que pode mudar o mundo pretende combater a prostituição infantil nas pequenas cidades amazônicas. Em ambos os casos, a realidade se mostra maior e mais poderosa do que os pobres agentes que cerca, estando eles ali pela própria vontade, como é o caso da ativista, seja pela força das circunstâncias, como é o caso do piloto. A exasperação desse choque se mostra de maneira ainda mais clara no contraste bem pensado entre o narrador, em terceira pessoa e foco bastante jornalístico/documental, e a experiência dos personagens. O narrador é preciso, direto, conta o bastante para que o leitor tenha a perfeita visibilidade da cena, mas permite que os personagens também se movam com certa independência, que eles mostrem ao leitor o desespero que acaba não sendo traduzido em palavras. A loucura que permeia a narrativa, institucionalizada, tacitamente aceita, se desdobra em muitas outras. Como ela vai se refletir reativamente nos próprios indivíduos? Os leitores descubrirão.